Quem conta um conto....


Escolha um conto, qualquer conto...

O dicionário define Conto como...
Hum, esqueçam. Não vamos começar esse texto assim. Isso porque eu tenho certeza que existe uma definição bem detalhada, tanto no dicionário, como em livros especializados sobre “Conto”. Não vou ficar aqui tentando demonstrar as diferenças entre um conto e um romance. Prefiro falar sobre o que ele representa para mim. Uma forma de contar histórias, como várias outras.
 Fazendo um paralelo com o texto anterior, sobre o hábito de leitura, os contos são uma boa forma de começar a ler. Não tem paciência para ler um livro? Tente começar com um livro de contos. Isto porque cada conto é uma historia em si e, em poucas páginas, você terá absorvido toda trama.
Claro, não se trata de uma regra geral. Alguns contos são tão grandes quanto um romance. Essa é a magia dessa forma de narrativa. Não é bem o tamanho que a define e sim uma ideia. Por muitas vezes quis escrever sobre determinadas situações, personagens ou cenários, mas não acreditava que podia escrever um livro sobre aquilo. Um conto, entretanto, funcionaria.
Uma noite tive um sonho onde descia em um elevador. Após intermináveis andares a porta se abriu revelando, ao invés de um saguão amplo ou um corredor, outro elevador. Nunca fui claustrofóbico, mas naquele dia fiquei meio incomodado com lugares fechados. Foi quando resolvi escrever um conto de terror chamado Elevador. Não acho que conseguiria fazer um livro com esta ideia, mas funcionou bem como conto.
Ao contrario de uma historia comum, contos não precisam seguir um padrão. Eles podem começar no meio, numa perseguição implacável, ou apenas retratar o final, como um paciente terminal em seus últimos minutos. Ele pode nem ter fim, deixando a trama em aberto. Eles são o baralho de todo escritor, um emaranhado de cartas para cada ideia, que podem ser sacadas a qualquer momento. Muitos filmes são baseados em contos e sequer ficamos sabendo disso. Desde os clássicos de Edgar Alan Poe como o Corvo, Coração Alcaguete e A Queda da Casa de Usher, até obras mais modernas como os contos de Stephen King, tem inspirado filmes, episódios de séries e desenhos. Porque aquela pequena ideia escrita pelo autor num impulso criativo, pode ser desenvolvida e ganhar seu inicio, meio e fim.
Talvez vocês não conheçam, mas eu sou da época dos Contos da Cripta. Sempre fui apaixonado por filmes de terror e essas pequenas histórias eram fascinantes. Lembro-me de muitas delas até hoje. Elas não se importavam com grandes explicações, queriam apenas assustar, mostrar um plot twist improvável ou o cerne de uma ideia.
Numa delas um homem encontra uma gárgula em um beco. Ele implora por sua vida e a gárgula concede a misericórdia, contanto que ele prometa nunca contar a ninguém sobre ela. O homem se casa, tem filhos e guarda seu segredo. Numa bela noite revela para mulher seu encontro com o monstro. A mulher chora e grita para seu marido que ele prometeu que não contaria. Ela se torna uma gárgula, bem como os dois filhos, mata o homem e sai voando com as crias pela noite fria até pousar numa igreja e transformar-se em estátua.
Brilhante não é? Não temos grandes explicações nesta história. O que nos importa é o desfecho. Toda trama é trabalhada para mostrar a cena final e impactar o espectador. Assim é o conto. Ele possui um objetivo, um ponto central que fez com que o autor tivesse aquela ideia e quisesse apresenta-la ao leitor. Pode ser breve, pode se estender pela narrativa, mas normalmente é um único ponto. Esse é o poder dos contos. Ele nos possibilita contar histórias de uma forma que os romances não permitiriam. Eles permitem que leitores se maravilhem com uma miríade de ideias, muitas vezes colacionadas em uma única obra. Recomendo fortemente as coletâneas de contos. Elas existem para todos os gostos. Só na Editora Pendragon temos contos Demoníacos, Natalinos e Amargos.
Contos pode ser a calistenia de um autor, uma forma confiável de exercitar sua criatividade. Nunca escreveu sobre guerra de gangues? Viagens para lua? Expedições num antigo sistema de esgoto abandonado, povoado de baratas gigantes? Não é necessário romancear sobre isso. Faça um conto sobre um tema aleatório e veja onde isso pode te levar. Não desista de uma ideia. Desperdiça-la pode ser tão grave quanto desperdiçar comida. Se não pode virar um livro, deixe que ela vire um conto.
Seus leitores agradecem.

Lucas Fernandes.

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2 comentários

  1. Lucas, amei demais.
    Adoro ler e escrever contos. Aliás, estou escrevendo um nesse momento, só parei para ler esse texto incrível!
    Também sou da época dos Contos da Cripta.Adoraria ter uma cocoleção de DVDs dessa série.
    Enfim, perfeito.

    Bjks

    Lelê

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    Respostas
    1. Quem sabe um dia Os Contos da Cripta entram no Netflix hehhehe. Vou dar a dica pra eles, não custa sonhar, bjos....

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